Obrigado por tanto, futebol!

Em três horas de um dos maiores espetáculos que o mundo pode presenciar, vimos a coroação máxima de um dos grandes gênios que já passaram nesse plano, e a confirmação de outro que quer passar de antagonista a herói

Vinícius Eira
4 min readDec 19, 2022

Nós somos privilegiados por poder acompanhar tanta coisa boa nos últimos anos. Sabe aquele estigma ruim de passar por pandemia e guerra e ter a sensação de viver história? Olhe pelo lado positivo, e também sinta que está vivendo a história de forma muito positiva.

Só no esporte nós pudemos ver nesse século nomes como Lewis Hamilton, Tom Brady, Lebron James, Kobe Bryant, Marta, Roger Federer, Rafael Nadal, Michael Phelps, Usain Bolt, Serena Williams e entre inúmeros outros grandes atletas.

E ontem pudemos ver um gênio entrando no olimpo dos maiores da história, e outro caindo em uma batalha, mas com certeza, não perdendo a guerra.

Pudemos ver, entre tantas batalhas que o mundo já proporcionou, um épico, valendo hoje a maior honraria do esporte, inédita para um e ainda tão estimada para o outro. E parafraseando outra lenda que pendurou os microfones ontem e merece todos os destaques também, Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno, os gladiadores do terceiro milênio não nos decepcionaram e entregaram tudo que tinham em campo.

Ao Messi, já nos seus 35 anos, com seus quase 800 gols, mais de 40 títulos, mais de 40 honrarias individuais, ainda faltava o ingresso para sentar no panteão dos deuses, o tíquete dourado que o credenciaria a um dos tronos da história.

Ao Mbappé, ainda nos seus 23 anos, já com Copa, já com quase 300 gols na carreira, já entre os maiores goleadores do Mundial, a sede ainda é de literalmente um garoto, assim como um tal de Edson, que com apenas 27 já era o maior da história nos anos 1970.

E vimos uma das maiores batalhas que já se foi presenciada entre quatro linhas e com 11 de cada lado. Os guerreiros Messi e Mbappé foram a guerra de peito aberto, e fizeram o que se esperava de cada um. Ao argentino, liderança e dois gols. Ao francês, vitalidade e três gols.

O que desequilibrou a balança e deu tom final mais alegre ao, até então, drama do tango argentino foi um anjo e um santo.

Ao anjo, ou melhor, Angel Di Maria, a escalação surpreendente na ponta esquerda, do atacante que havia se lesionado e perdido parte da Copa. Saldo final, um gol e o pênalti sofrido no início do jogo.

Já ao santo, que terminou o jogo com luvas douradas e muito representativas por tudo vez, fica o destaque para duas intervenções milagrosas que auxiliaram nosso herói. Emiliano Martinez surge como um alento após tantos goleiros argentinos questionáveis, e com um dom quase de congelar o tempo, parou o chute de Kolo Muani nos acréscimos da prorrogação, além do pênalti de Coman.

Mas é injusto acharmos que as ajudas a Messi e o protagonismo solitário de Mbappé ditaram o tom do duelo. O argentino viveu a Copa como a muito não se via. E a França encontrou justamente no coletivo, após tantas lesões, a sua força para chegar ao confronto final.

Outra injustiça é achar que os deuses do futebol enfim foram justos ao premiar Lionel com seu troféu máximo. Quase como na teoria da lenda do herói, o argentino surgiu como o escolhido para carregar um país a glória, apanhou, caiu, aprendeu, e ele mesmo se tornou um dos deuses do futebol para terminar a tarefa.

Se lhe faltava algo para ainda se questionar, não falta mais. Messi chegou lá. Mesmo com tantos problemas na infância, dúvidas sobre si mesmo, ele chegou lá. Encerrou-se um ciclo com um fim de roteiro épico. Do garoto que não podia crescer para um dos gigantes da história.

Ao outro garoto, Kylian, fatalmente a tristeza pela derrota na batalha pode acabar se tornando motivação para vingança, no grande roteiro de antagonista que já teve tudo, perdeu e se volta contra o mundo.

E a julgar pela vitalidade, pelos números, pela renovação de seu exército com a seleção francesa se fortalecendo cada vez mais e com outros jovens, ainda falaremos muito sobre a joia francesa que quer terminar a carreira de forma ainda mais épica que seu rival do Catar.

O que resta a nós é agradecer ao futebol pela oportunidade de ver não só uma Copa especial, como um dos maiores jogos que esse esporte já proporcionou. Ter a chance de saborear o que temos de melhor na história, além da conversão de meninos em deuses.

--

--